segunda-feira, 10 de abril de 2017

Análise Histórica de "Lawrence da Arábia"

 

"Lawrence da Arábia" - Uma Aventura Histórica na Grande Guerra

 
"Lawrence da Arábia" é um filme inglês de 1962 dirigido por David Lean e protagonizado por excelentes atores como: Peter O'Toole, Omar Sharif, Alec Guinness e Anthony Quinn. A história do filme é real e se passa durante a Primeira Guerra Mundial. O filme se foca no polêmico e genial T.E. Lawrence, um comandante britânico que teve a incrível ideia de unir todas tribos árabes do Oriente Médio contra o Império Otomano, que na época era um aliado da Alemanha, inimiga da Inglaterra. O filme possui uma das melhores cinematografias da história, todos os atores fazem uma incrível atuação de seus respectivos personagens, a música é fantástica e as poucas cenas de guerra são memoráveis até hoje. O filme é tão bom que ganhou sete oscars em 1962, incluindo de melhor filme. Obrigatório!
 
 
 

Quem foi T. E. Lawrence?

 
Thomas Edward Lawrence foi um famoso e importante oficial britânico (coronel) durante a Primeira Guerra Mundial que ajudou a derrubar um decadente Império Otomano. Foi Lawrence, em 1916, que percebeu que o único jeito de derrotar o Império Otomano, após o desastre aliado em Galípoli, era de convencer as tribos árabes de se revoltarem contra seus respectivos "mestres" e ajuda-las a criar uma nação totalmente árabe no Oriente Médio. Quando sua ideia foi aprovada pelo alto comando britânico, Lawrence foi imediatamente enviado para a província de Hejaz, na Arábia, para inicar a famosa e épica Revolta Árabe. De 1916 até 1918, Lawrence lideraria uma imensa horda de guerreiros tribais pelos desertos do Oriente Médio e acabaria se tornando um elemento chave para a derrocada final dos Otomanos. Em 1919, Lawrence esteve presente na "criação" do governo árabe, mas logo abandonou o Oriente Médio, quando as nações aliadas começaram a brigar pelos territórios mais ricos da região. Lawrence viveria até 1935, na Inglaterra, onde acabaria morrendo após sofrer um horrível acidente de moto. É considerado um herói pelos britânicos.
 
 

 

A Província de Hejaz

 
 
Durante a Grande Guerra, Hejaz era a província otomana de mais importância em todo o Império. Não só continha as cidades sagradas de Meca e Medina como também possuía a essencial linha ferroviária que conectava Constantinopla com Bagdá até Medina e era importante para manter o Império de pé. Na época, Hejaz tinha uma grande quantidade de tribos árabes, a maioria leal aos otomanos. Porém, foi nessa região, considerada calma pelos otomanos, que deu início a ousada Revolta Árabe. Com a captura da maioria das cidades em Hejaz, Medina, Arábia do Sul e o Iêmen ficariam isolados do resto do Império e acabariam se rendendo para os aliados no fim da guerra. Hoje, Hejaz é a região mais populosa e rica de toda a Arábia Saudita.
 
 
 

Os Misteriosos Beduínos

 
Os beduínos são um povo nômade que habita as regiões mais áridas da África e do Oriente Médio. A origem dos beduínos é desconhecida, mas se sabe que eles vivem pelos desertos a mais tempo que a maioria dos outros povos da região. A principal religião deles é o Islã, mas há ainda alguns grupos isolados que mantém a religião tradicional de seus antepassados. São grandes cavaleiros (tanto de cavalos quanto de camelos) e grandes mercadores. Eles vivem na forma de imensas tribos ou clâs e tentam ao máximo evitar o uso de tecnologia avançada. Mesmo sendo nômades, os beduínos podem ser em alguns raros momentos violentos diante de estrangeiros. Durante a Revolta Árabe, Lawrence iria conseguir convencer a maioria dos líderes beduínos a apoiar a luta contra os otomanos. A presença desses povos dos deserto ajudariam os aliados a derrubar o Império Otomano.
 
 
 

A Revolta Árabe

 
 


A Revolta Árabe foi a campanha militar mais ousada que os aliados fizeram para derrotar o Império Otomano. Após os desastres em Galípoli e na Mesopotâmia, os otomanos acreditavam que os aliados não teriam condições de ataca-los por mais um ano. Mas, em 1916, os aliados fizeram um acordo secreto com os principais líderes árabes na província de Hejaz para iniciarem uma revolta armada e distrair o exército otomano de outras frentes de combate. De início parecia que a revolta seria facilmente esmagada, mas com a chegada de Lawrence, a maré virou a favor dos revoltsos e em 1918 eles já haviam dominado boa parte do Império Otomano e isolado uma grande quantidade de soldados inimigos em várias províncias do Império.
 
 
 

Aviões Otomanos

 

O Império Otomano não possuía uma indústria bélica. Ele sempre necessitou importar armamento da Alemanha para manter seu poder no Oriente Médio. Uma dessas armas era o avião. Vários modelos de origem alemã foram comprados pelos otomanos e usados em todas as batalhas em que o Império estava envolvido. O avião foi uma arma letal quando usado contra os povos árabes. Como a maioria nunca havia visto tal máquina era comum a deserção em massa de guerreiros ao longo da campanha. Mas, em 1918, com a vinda de forte apoio aéreo britânico, os árabes pararam de ter medo dos aviões otomanos e até mesmo abateram alguns deles nos últimos dias da guerra. O modelo acima foi o mais usado pelos otomanos.
 
 
 
 

A Incrível Captura de Aqaba

 
Em 6 de Julho de 1917, Lawrence, liderando mais de 5000 árabes para o extremo norte de Hejaz, fez um ataque surpresa na guarnição otomana na cidade portuária de Aqaba. Mesmo com poderosas defesas, todas elas miradas para o mar, a guarnição otomana foi simplesmente destroçada pelo ataque rápido e preciso dos árabes, com forte apoio naval britânico, bombardeando as posições mais difíceis da cidade. Em menos de 20 minutos, Aqaba estava nas mãos dos árabes, que só perderam dois homens, e dos 450 otomanos, 300 foram rendidos, os outros 150 foram mortos durante o ataque. A captura de Aqaba foi considerada um dos ataques mais bem sucedidos da História e um ponto chave para a Revolta Árabe que agora possuía um porto perto do seu próximo objetivo: Jerusalém.
 
 
 
 

O Essencial Canal de Suez

 
O Canal de Suez foi estabelecido pelos franceses em 1869, mas só foi finalizado em 1888 pelos ingleses. Até hoje o canal é considerado o local mais estratégico no mundo, pois conecta a Europa com a Ásia e facilita as rotas comerciais navais com os dois territórios. O canal tem uma extensão de mais de 193 km, um dos mais longos do mundo. Muitas nações já sangraram por seu controle. Atualmente é administrado pelo governo egípcio e protegido militarmente pelos EUA e Reino Unido.
 
 
 
 

O Genial General Allenby

 
 
Edmund Allenby foi um oficial britânico da Primeira Guerra Mundial que com a ajuda de Lawrence derrubou o Império Otomano. Depois de um breve período na Frente Ocidental, Allenby foi transferido para comandar as forças britânicas no Egito. Após uma épica defesa no Canal de Suez em 1915, Allenby reuniu forças suficientes para retomar o controle da Península do Sinai dos otomanos. Porém, seu avanço foi logo detido no sul da Palestina. Mas, quando a Revolta Árabe estourou, Allenby aproveitou para atacar e forçar os otomanos a recuarem mais para o norte. No final de 1917, Allenby entrava em Jerusalém e avançava em direção a Damasco. Em 1918, com ajuda de Lawrence, ele lançou a ofensiva de Megido e esmagou de vez o exército otomano com a captura de Damasco. Dias depois o Império Otomano se rendia para os aliados e a guerra chegava ao seu fim. Declarado um herói britânico, Allenby continuaria comandando as forças britânicas no Egito até 1925. Ele morreria de derrame cerebral na Patagônia em 1936.
 
 
 

A Importante Linha Ferroviária de Hejaz

 

A Revolta Árabe não havia sido lançada só para distrair o Império Otomano de outras frentes, mas também para neutralizar a Linha Ferroviária de Hejaz, a coluna vertebral de todo o império. Ela saía de Constantinopla, passava por Bagdá e chegava até Medina. Sem essa linha, as tropas otomanas ficariam isoladas em várias regiões e sofreriam com a falta de munição e suplementos. Lawrence lançou uma campanha contra essa linha durante toda a revolta, mas não conseguiria neutraliza-la por completo. Só com a rendição dos otomanos é que a linha seria finalmente neutralizada.
 
 
 

Carros Blindados Britânicos

 

O carro blindado usado pelos britânicos e seus aliados foi desenvolvido e produzido pela Rolls-Royce em 1915 para tentar quebrar o impasse das trincheiras. Porém, o veículo era muito leve, tinha uma única metralhadora, podia facilmente ficar atolado na lama e era muito fácil de destruir. Mas, os britânicos não desistiram e decidiram usa-lo em outras frentes de combate, principalmente no deserto. Durante a Revolta Árabe, Lawrence receberia uma dúzia dessas máquinas e elas seriam essenciais em ajudar os exércitos árabes a destruir as posições mais difíceis que os otomanos estabeleceram no meio do deserto. Esse blindado continuaria em uso até 1944 durante a Segunda Guerra.
 
 
 

A Tomada de Jerusalém

 
A Batalha de Jerusalém foi um ponto decisivo contra o Império Otomano. Aproveitando o caos que Lawrence estava causando na Árabia e forçando o Império Otomano a mandar mais tropas para a região, Allenby lançou uma pesada ofensiva contra as defesas otomanas nas colinas que cercavam a cidade santa. Após longos e intensos combates, em 30 de Dezembro de 1917, os otomanos abandonaram Jerusalém e os britânicos adentraram na cidade. Allenby devolveu o controle da cidade para os judeus e finalizou o poder árabe na cidade que durava desde a época da cruzadas. Lawrence chegaria com seu exército no dia seguinte e logo partiria para ajudar a tomar Damasco.
 
 
 
 

A Ofensiva de Megido - O Fim do Império Otomano

 

Em 19 de setembro de 1918, Allenby lançou a mais complexa ofensiva britânica contra os otomanos. Aproveitando os incessantes ataques árabes de Lawrence na retaguarda otomana, Allenby, usando blindados e cavalos, rompeu pelos flancos as defesas otomanas e iniciou um imenso massacre na caótica retirada que teve início por parte dos otomanos. Após uma semana de lutas caóticas, a principal fortaleza otomana de Deraa estava nas mãos dos aliados e o exército otomano no Oriente Médio, literalmente acabado. O Império Otomano começava a ruir.
 
 
 
 

O Massacre de Tafas - A Pior Decisão de Lawrence?

 


Durante o fim da ofensiva de Megido, o exército otomano iniciou uma retirada caótica após a queda de Deraa. Numa das rotas que utilizaram para escapar, uma divisão otomana se deparou com a vila de Tafas, habitada por sírios leais ao governo, e decidiu punir a população por causa do levante árabe. Em poucos minutos, os otomanos massacraram a população e destruíram a vila por completa. Horas após tal ato, Lawrence, liderando o exército árabe, chegou a Tafas e presenciou a carnificina. Enfurecido com tal ato e desobedecendo ordens para seguir para Damasco, Lawrence seguiu a rota dos otomanos e os localizou a caminho da capital síria. Lawrence liderou um imenso ataque e os otomanos tentaram se defender. Mas, foi tudo em vão. Toda a divisão otomana foi destruída em poucos minutos e só 10 árabes morreram. Depois de tal ato, Lawrence ficou chocado com que fez e caiu em lágrimas. Quando escreveu sua biografia, Lawrence citou tal decisão como a pior de sua vida.
 
 
 

A Tomada de Damasco e o Fim da Grande Guerra no Oriente Médio

 
Após o horrível massacre em Tafas, Lawrence e seu exército correu para tomar Damasco antes da chegada do exército britânico de Allenby. Lawrence ganhou a corrida e esperou Allenby aparecer no portões da cidade. A capital síria estava abandonada e milhares de otomanos feridos foram deixados para trás em condições bastantes desumanas. Foi em Damasco que os aliados negociaram com os povos árabes sobre a divisão do Oriente Médio. Dias depois, o Império Otomano se rendeu para os aliados e finalizou a luta no Oriente Médio. Com isso, a Revolta Árabe chegou ao fim e muitas tribos decidiram voltar para suas terras para iniciarem o processo de estabelecimento dos reinos árabes. A tomada de Damasco foi a última ação militar que Lawrence participou antes de voltar para sua casa no Egito e depois para a Inglaterra.
 
 
 
 

Bibliografia: