terça-feira, 15 de março de 2016

Análise Histórica - "Sem Novidade no Front"



Sem Novidade no Front - O Filme de Guerra Mais Pacifista de Todos

 
 
"Sem Novidade no Front" é um filme americano de 1930, dirigido por Lewis Milestone e baseado na obra biográfica de Erich Maria Remarque. O filme conta a história (fictícia) de um grupo de jovens alemães que vão entusiasmados lutarem nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, acreditando que a guerra seria curta e vitoriosa para a Alemanha. Com um elenco de jovens talentos como Louis Wolheim, Lew Ayres, John Wray entre outros, o filme é sensacional. Totalmente em preto e branco, o filme foi produzido numa época onde o mundo ainda sofria transformações após a Grande Guerra. Banido por dezenas de países, incluindo França e Alemanha, por ser muito pacifista, o filme é um excelente exemplo de dedicação para criticar que a guerra em geral é inútil e que só serve para ceifar a vida de milhares de pessoas para ganhos insignificantes. Recomendo 100%
 
 
 

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

 
A Primeira Guerra Mundial foi um dos maiores conflitos que atingiram o mundo inteiro e causou mais de 50 milhões de mortes. A guerra teve início após o assassinato do herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, em Sarajevo, na Bósnia, por extremistas locais apoiados pela Sérvia. O Império Austro-Húngaro então, declarou guerra contra a Sérvia, que pediu ajuda da Rússia para apoiar uma ofensiva contra os austríacos. A Alemanha, aliada dos austríacos, também entrou no conflito e isso provocou a entrada das nações aliadas (França e Inglaterra) na luta pela supremacia da Europa. A guerra se dividiria em várias frentes de combate: Ocidental (1914-18), Oriental (1914-17), Italiana (1915-1918), Oriente Médio (1915-1918), Africana (1914-1918), Extremo Oriente (1914) e Atlântico (1914-18). Várias armas inéditas seriam usadas no conflito como: a metralhadora automática, tanques de guerra, submarinos e aviões. A guerra chegaria ao fim com a entrada dos EUA no conflito europeu e com a rendição da Alemanha Imperial e de seus aliados (Austria-Hungria, Império Otomano e Bulgária). Com o fim do conflito, o mundo sofreria grandes transformações geográficas e políticas que existem até hoje, principalmente na Europa, graças a esse imenso conflito que matou milhões para "reformar" o mundo.
 
 
 


O Exército Imperial Alemão

 
Durante a Grande Guerra, o Exército Imperial Alemão era um dos maiores e mais formidáveis exércitos da Europa. De origem prussiana, o exército imperial era bem disciplinado, organizado e treinado tanto para a guerra de movimento quanto para a guerra de trincheiras. Criado em 1871, após a Guerra Franco-Prussiana, o exército era dividido pelas províncias do Império, cada uma com um determinado número de divisões de infantaria e seu próprio centro de comando. Foi graças a esse sistema de comando independente que os alemães superavam os aliados em táticas de combate até o fim do conflito. O principal armamento era o fuzil Kark98. Também possuíam cavalaria, artilharia, aviões e tanques (no último ano). Após a guerra e a assinatura do Tratado de Versalhes, o exército imperial foi dissolvido em 1919 e transformado numa milícia de 100.000 homens.
 
 



A Frente Ocidental

 

A Frente Ocidental foi o principal teatro de operações da Primeira Guerra. As maiores e mais brutais batalhas da guerra aconteceram nessa frente. A campanha teve início com a invasão alemã da Bélgica (que era neutra) em 1914, mas foi também nesse ano em que a guerra de movimento chegava ao fim e tinha início a guerra de trincheiras após a derrota alemã na Primeira Batalha do Marne. Nos anos de 1915, 1916 e 1917, a frente ocidental entrou num longo impasse, com longas e imensas trincheiras  construídas desde o Canal da Mancha até a fronteira da Suíça (vide a imagem acima). Foram nesses três anos em que aconteceriam as maiores e mais brutais batalhas de toda a guerra como: o Somme, Verdun, Ypres, Passchendale e Nivelle. Esse impasse na frente ocidental só seria quebrado em 1918, com a chegada dos EUA na guerra e o retorno da guerra de movimento iniciada pelos alemães com a Ofensiva da Primavera e finalizada pelos aliados com a Ofensiva dos 100 Dias. Também seria nessa frente onde várias inovações militares seriam empregadas como: o avião, o tanque, a metralhadora automática, armas químicas e tropas de assalto. As perdas humanas só nessa frente chegam perto de 7.000.000 de mortos, feridos e desaparecidos.
 
 

A Terra de Ninguém

 
A Terra de Ninguém era uma extensa área de combate onde ninguém tinha controle sobre o terreno em disputa. Trincheiras eram contruídas entre essas regiões devastadas para terem um excelente campo de visão para a artilharia, atiradores e metralhadoras. Também era nessas áreas que ambos os lados lançavam suas ofensivas em massa para tentarem tomar as trincheiras inimigas, antes de serem expulsos por um contra-ataque inimigo. A Terra de Ninguém parecia uma imagem do Inferno. Cheio de crateras, veículos abandonados, cadáveres, árvores queimadas, ratos do tamanho de gatos e armadilhas, a Terra de Ninguém era um local onde ninguém queria passar para alcançar seu objetivo. A foto acima mostra o que sobrou de um bosque no norte da França após a guerra. Quase 90% do território francês no norte da França ficaria neste estado. Demoraria muitos anos para que alguns lugares voltassem a ser como eram antes, enquanto que em outros lugares ainda existem "cicatrizes" da carnificina que aconteceu lá.
 
 
 

A Artilharia na Grande Guerra

 
Durante toda a Grande Guerra, a artilharia foi a arma mais usada em quase todas as batalhas. Na frente ocidental, a artilharia era usada para destruir fortificações e preparar o caminho para a infantaria. Porém, durante a guerra de trincheiras, o uso maciço da artilharia denunciava qualquer tentativa de rompimento das linhas inimigas. Quando acontecia o bombardeio, o inimigo se escondia em abrigos e esperava o fim do bombardeio para engajar a infantaria, que ficaria exposta e sofreria grandes baixas. Vários tipos de canhões foram usados. Alguns eram enormes como o canhão ferroviário alemão que foi usado para bombardear Paris e outros possuíam calibres absurdos como o canhão Skoda de 305mm que podia com um único tiro criar uma cratera do tamanho de uma casa. A maioria dos feridos e até mesmo dos desaparecidos foram vítimas dessas monstruosidades que simplesmente aniquilavam qualquer coisa que fossem bombardear.
 
 
 
 

A Vida nas Trincheiras

 
 
A vida nas trincheiras da Grande Guerra era miserável e podre. Quando acontecia o período de chuvas no norte da França, a trincheiras inundavam e as roupas dos soldados ficavam úmidas, trazendo consigo várias doenças como tifo e pé de trincheira. Também o lugar ficava infestado de ratos, que apareciam para devorar os restos mortais dos soldados que caíam nas batalhas de atrito. Eram tantos cadáveres que os ratos ficavam do tamanho de gatos quando se alimentavam dos restos humanos. Os abrigos eram feitos de madeira e facilmente destrutíveis pela artilharia. Muitos soldados perderam a vida soterrados por causa da artilharia inimiga. Não havia muita comida e a água era na maioria das vezes suja e cheia de doenças. Os soldados eram forçados a fazerem suas necessidades no mesmo local em que estavam. Qualquer motivo para sair da trincheira causava morte instantânea por causa de atiradores e metralhadoras. Foi assim que viveu o soldado que lutou na Frente Ocidental contra um inimigo preparado e determinado.
 
 
 
 
 

A Guerra de Trincheiras

 
Durante boa parte da luta na Frente Ocidental, as trincheiras se tornaram o principal elemento de combate da Grande Guerra. A Guerra de Trincheiras foi uma tática de desgaste para enfraquecer um lado e favorecer o outro. Porém, na Frente Ocidental, esse tipo de tática acabou arrasando com exércitos inteiros durante cinco anos de conflito. As trincheiras eram divididas em três partes: vanguarda, linha central e retaguarda. A vanguarda era onde ficavam as metralhadoras e os soldados mais enfraquecidos. A linha central era onde estavam localizadas as melhoras tropas, utilizadas para contra-atacarem o inimigo, caso este capturasse a vanguarda. Por fim, tinha a retaguarda onde ficava a artilharia e os suplementos das outras duas linhas. Caso as duas primeiras linhas caíssem pro avanço inimigo, os defensores remanescentes defenderiam a última linha até o fim. Com o passar do conflito, abrigos de concreto com metralhadoras seriam construídos na linha central dificultando ainda mais qualquer avanço inimigo no setor. O fim da guerra de trincheiras teria início em Novembro de 1917, quando os aliados utilizariam mais de 500 tanques num único ataque contra as linhas alemãs em Cambrai na França. No ano seguinte, seriam os alemães que acabariam de vez com essa tática com o lançamento da Ofensiva da Primavera e o retorno da guerra de movimento.
 
 
 
 

A Metralhadora

 
A metralhadora foi a arma mais letal da Grande Guerra. Também foi a que causou as maiores perdas humanas no conflito. Vários modelos foram usados como: a Maxim, a Hotchkiss e muitas outras. Já em uso desde o fim do século 19, a metralhadora sofreu grandes transformações durante a corrida armamentista na Europa. Tirando a manivela tradicional da Gatling e colocando um gatilho conectado à um sistema de refrigeração, nascia a metralhadora automática. Cada uma podia disparar mais de 1000 balas por minuto, mais que a Gatling que disparava 300 balas por minuto. Quase todas ficavam posicionadas em tripés, que eram carregados pela infantaria e algumas eram puxadas com carrinhos de mão. Mas existiu só uma que podia ser carregada individualmente, a MP18, que seria a base de criação das primeiras submetralhadoras da Alemanha e do resto do mundo. Essa arma também foi responsável pelo violento impasse da Frente Ocidental e levou ao fim da cavalaria européia. Tinha início a guerra contemporânea.
 
 
 
 

A Fome na Alemanha Imperial



Durante toda a Grande Guerra, a Alemanha sofreu um violento bloqueio naval que afetaria a vida civil ao longo do conflito. Por ter colônias muito distantes e uma frota pequena comparada à Marinha Real Britânica, a Alemanha Imperial já sofria com a falta de matéria-prima para suas indústrias, alimentos para a população e remédios. Quando a guerra teve início, a situação só piorou. Por causa da estagnação da Frente Ocidental, o Império foi forçado a desviar quase todos os recursos essenciais para sua infraestrutura e mandá-los para as zonas de combate. Em 1918, alguns meses antes do fim, a Alemanha sofria com horríveis casos de fome, muitos parecidos com o que acontece na África atualmente, e epidemias de doenças devastadoras como a Gripe Espanhola. Quando a Alemanha finalmente se rendeu e assinou o Tratado de Versalhes, o bloqueio naval foi levantado. Porém, a Alemanha só retornaria para sua glória social, sem fome e doenças, em 1925 durante a República de Weimar.
 
 
 
 
 

Os Aviões na Grande Guerra

 
Talvez a maior inovação no campo de batalha foi o avião. Os aviões da Grande Guerra eram feitos de madeira e papel. Extremamente frágeis, mas rápidos, esses primeiros aviões foram utilizados para várias tarefas no campo de batalha. Foram usados para reconnhecimento, combate aéreo, bombardeio e apoio as tropas terrestres. O maior uso do avião na Grande Guerra foi na Frente Ocidental onde os aliados, que tinham mais aviões, enfrentaram o poderio aéreo total da Alemanha Imperial, que possuía os melhores aviões da guerra. Os combates eram caóticos e ferozes. Mas, mesmo assim ainda existia um certo cavalheirismo entre os pilotos de ambos os lados. Grandes pilotos surgiriam durante esses combates, como o maior de todos, o temível e ágil Barão Vermelho. Se o avião tivesse demorado em participar do conflito talvez a Grande Guerra acabaria se tornando uma luta mais longa e devastadora do que realmente aconteceu.
 
 
 
 

Atiradores na Grande Guerra



Outro grande perigo para aqueles que viviam nas trincheiras eram os atiradores de elite. A maioria ficava nas trincheiras usando rifles com mira especial para tentar atingir qualquer desafortunado que levantasse sua cabeça na trincheira rival. Mas, havia outros métodos para os atiradores poderem atingir seus alvos sem serem avistados. Alguns usavam camuflagem do terreno local e se espreitavam na Terra de Ninguém. Outros se fantasiavam de árvores destruídas para enganar o inimigo. De um modo geral, os atiradores sempre dificultaram a vida nas trincheiras e muitos soldados pagariam o preço de não prestarem atenção nos arredores em locais que eles mesmos acreditavam estarem segursos.
 
 
 
 

Bibliografia: